O pecado mais resistente
A. W. Tozer

“Os querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos”

O desejo de aprovação social é um dos pecados pessoais menos repulsivos. Ele não carrega consigo nenhuma das qualidades ofensivas, por exemplo, do amor-próprio ou da justiça-própria. Sob certas circunstâncias, poderia ser até mesmo uma virtude, pois se o mundo fosse habitado por homens e mulheres de coração puro e vida santa, seria correto e natural desejar viver de tal forma que merecesse a aprovação deles. Não há dúvida de que os seres santos que habitam o mundo espiritual se regozijam no amor e no respeito dos seus semelhantes, mas não existe nem se pode fazer nenhum paralelo entre o céu e a terra. Nós vivemos num mundo a meio caminho entre o céu e o inferno.

No inferno existe somente o mal; no céu, somente o bem; na terra, joio e trigo crescem lado a lado, e o joio é muitas vezes mais numeroso do que o trigo. Houve pelo menos um período na história do mundo quando os justos podiam ser contados nos dedos de ambas as mãos, sem contar os polegares, e as palavras de Cristo nos dão forte razão para crer que a proporção entre bons e maus não será muito diferente no final dos tempos (Mt 24.37-39; Lc 17.26-30).

A natureza humana é tão corrupta, a raça humana é tão ímpia e rebelde, que o verdadeiro amigo de Deus não será aceito pelo mundo, embora às vezes aconteça de ser elogiado por trazer algum benefício à sociedade, como, por exemplo, David Livingstone, que desbravou o interior da África. Mas quanto mais parecidos com Cristo os homens se tornarem, tanto mais sentirão a força das palavras do nosso Senhor: “Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia” (Jo 15.19); e as palavras de Paulo: “Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2 Tm 3.12).

Ser um verdadeiro cristão exige privar-se da aprovação do mundo. Contudo, somos tão humanos que esse desejo de agradar aos nossos semelhantes perdura conosco muito tempo depois que outros pecados já foram despachados. A maioria das vezes lidamos com o assunto estreitando o círculo das pessoas de quem buscamos aprovação. Consideramos o pecador mundano como impossível de agradar, e não nos preocupamos se ele nos aprova ou não. Junto com ele despachamos o liberal, o modernista, o cultista e uma multidão de outros como eles. Aí começamos a nos congratular: nós “não tememos homem algum”, somos destemidos cristãos que carregam a cruz, não nos importamos nem com a censura nem com o louvor dos homens. Talvez sim, mas onde está o cristão que de fato está morto para a opinião pública? A maior parte das vezes estamos mortos apenas para a opinião de certos setores do público, e nos guardamos para outros grupos menores, cuja opinião de fato ainda valorizamos muito. Tenho percebido como essa tendência percorre toda a sociedade humana. O intelectual zomba do favor da vasta maioria da humanidade, mas avidamente corteja o favor do seu pequeno círculo de colegas intelectuais e sente-se triste quando por eles é desaprovado. A mulher da alta sociedade parece não ligar para a opinião dos milhões que leem sobre as suas duvidosas aventuras, mas será capaz de suicidar-se, se for excluída do estreito mas seleto grupo de cuja estima ela depende como se fosse a sua própria vida e fôlego.

Entre os cristãos as coisas não são muito diferentes. Um pregador obtém a reputação de ser “destemido” no ataque aos liberais, aos católicos, à bebida alcoólica e à imoralidade, mas murmura aos pés do seu próprio pequeno grupo. Ele talvez afronte corajosamente o Papa, mas jamais ousaria cruzar o caminho do diácono endinheirado da sua congregação, nem expressará nenhuma opinião teológica que ele sabe ser contrária à maioria da opinião do grupo religioso a que está associado. Ele está inteiramente disposto a fazer inimigos de quem quer que não aprove as opiniões da sua denominação, mas ele cuidadosamente evitará ofender qualquer um da sua denominação que ocupa algum cargo que possa fazê-lo sofrer por causa de suas opiniões.

Eu não consigo crer na espiritualidade de qualquer cristão que fica de olho na aprovação dos outros, quem quer que sejam. O homem segundo o coração de Deus precisa morrer para a opinião tanto dos seus amigos como dos seus inimigos. Ele precisa estar disposto a crucificar tanto as pessoas importantes como as que não se destacam. Ele precisa estar pronto a repreender o seu superior tão prontamente como o faz com aqueles que estão ao seu próprio nível na hierarquia eclesiástica. Reprovar alguém com o objetivo de obter o favor de outra pessoa não é evidência de coragem moral. Isso acontece o tempo todo no mundo.

Nós nunca estaremos onde deveríamos estar em nossa vida espiritual, até que estejamos tão devotados a Cristo, que não desejamos outra aprovação a não ser o Seu sorriso. Quando estivermos completamente imersos nEle, o frenético esforço de agradar aos homens chegará ao fim. O círculo de pessoas que nos esforçaremos a agradar será reduzido a apenas Um. Aí, então, e nem um momento antes disso, saberemos o que é a verdadeira liberdade.


Fonte: Site Celebrando

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