Como levar pessoas a Cristo
Lições básicas sobre a vida cristã prática

Watchman Nee


“Aquele que ganha almas é sábio” (Provérbios 11:30).

Olhemos o assunto de como conduzir pessoas ao Senhor a partir de dois ângulos: primeiro, nos aproximando de Deus em favor dos pecadores; e em seguida, nos aproximando dos pecadores da parte de Deus, e a técnica de como conduzir pessoas ao Senhor.

APROXIMANDO-NOS DE DEUS EM FAVOR DOS PECADORES

A oração é básica para a salvação das almas

Existe um princípio fundamental na salvação das almas, e é que, antes de falar com uma pessoa, devemos orar a Deus. Primeiro orarmos ao Senhor e em seguida poderemos falar. É absolutamente necessário interceder diante de Deus em favor da pessoa a quem será falado mais adiante. Se falarmos a ele antes de orar, não obteremos nada.

Portanto, a primeira coisa que devemos fazer é pedir a Deus algumas almas. «Todo o que o Pai me dá, virá a mim...» (João 6.37), disse o Senhor Jesus. E também recordamos como Deus acrescentava cada dia à igreja aos que iam sendo salvo (Atos 2.47). Devemos pedir a Deus pelas almas. Precisamos orar: «Oh Deus, nos dê almas para o Senhor Jesus, acrescente pessoas à igreja». As pessoas são dadas quando as pedimos. Os corações humanos são tão sutis que não se dobram com facilidade. Por isso, devemos orar fervorosamente por uma pessoa antes de lhe falar. A oração é vital. Ora nomeando a aquelas pessoas às quais desejamos conduzir a Cristo, creiamos que Deus as salvará, e então guiá-las ao Senhor.

O maior obstáculo para orar é o pecado

Os novos crentes devem estar especialmente atentos a rejeitar todos os pecados conhecidos. Devemos aprender a viver uma vida santa diante de Deus. Se alguém for permissivo no que se refere ao pecado, a sua oração será impedida completamente. O pecado é um problema grave. Muitos não podem orar porque toleram o pecado em suas vidas. O pecado não só obstruirá as nossas orações, como também fará naufragar a nossa consciência.

Os novos crentes deveriam ver que a questão do pecado deve ser resolvida se querem ser destros na oração. Portanto, deve ter em conta especialmente o valor inapreciável do sangue. Viveram no pecado tanto tempo que não poderão ser totalmente libertados do pecado se são, mesmo que levemente, indulgentes com ele. Precisam confessar um a um os seus pecados diante de Deus, pô-los um a um debaixo do sangue, rejeitar cada um deles, e serem livres deles. Assim a sua consciência será restaurada. Pela purificação do sangue, a consciência é restaurada imediatamente. Com o lavar do sangue, a consciência já não acusa e pode ver naturalmente o rosto de Deus. Nunca permita cair até um ponto em que te tornes fraco diante de Deus, porque então não poderás interceder em favor de outros. Portanto, esta questão do pecado é a primeira coisa que deves atender diariamente. Trate eficientemente com o pecado; então poderás orar sem tropeços diante de Deus e trazer pessoas a Cristo. Se recordares diariamente às pessoas diante do Senhor com fé, logo as ganhará para Cristo.

Orar com fé

Uma vez que os crentes se ocuparam a fundo com os seus pecados e chegaram a manter uma limpa consciência diante de Deus, necessitam de uma ajuda adicional para ver a importância da fé.

Na realidade, a vida de oração dos novos crentes está envolvida essencialmente com a consciência e a fé. Embora a oração seja algo profundo, para os novos crentes é só uma questão de consciência e de fé. Se a sua consciência diante de Deus está limpa, a sua fé será fortalecida com facilidade. E se a sua fé é suficientemente sólida, a sua oração será respondida facilmente. Portanto, é necessário que eles tenham fé.

O que é a fé? É não duvidar quanto está orando. É Deus quem nos impulsiona a orar. É Deus quem nos assegura que podemos orar a ele. Se orarmos, ele não pode senão nos dar uma resposta. Ele diz: «Batei, e abriser-vos-á». Como posso eu bater e ele negar-se a abrir? Ele diz: «Buscai, e achareis». Posso procurar e não encontrar? Ele diz: «Pedi, e vos será dado». É absolutamente impossível que peçamos e não nos dê. Quem nós pensamos que é o nosso Deus? Deveríamos ver quão fiéis e confiáveis são as promessas de Deus.

A fé vem pela palavra de Deus. Porque a palavra de Deus é como dinheiro na mão, que pode ser tomado e ser utilizado. A promessa de Deus é a obra de Deus. A promessa nos diz qual é a obra de Deus, e a obra nos manifesta a promessa de Deus. Se crermos na palavra de Deus e não duvidarmos, habitaremos na fé e veremos quão digno de confiança é tudo o que Deus tem dito. Nossos rogos serão respondidos.

APROXIMANDO-NOS DOS PECADORES DA PARTE DE DEUS

Não basta só orarmos pelos pecadores e irmos diante de Deus em favor deles. Também devemos nos aproximar deles em nome de Deus. Precisamos lhes dizer como Deus é. Muitas pessoas se atrevem a falar com Deus, mas carecem de valor para falar com os homens. Os jovens devem ser treinados para falar com outros com ousadia. Necessitam não apenas orar, mas também oportunidades de falar.

Ao falar com as pessoas, há algumas coisas que devem ser observadas especialmente.

Nunca discuta desnecessariamente

Para falar com as pessoas, necessitamos um pouco de técnica. Acima de tudo, não devemos entrar em discussões desnecessárias. Isto não significa que nunca devemos discutir, porque em Atos encontramos várias instâncias onde houve discussão; até o apóstolo Paulo discutiu. Se você tiver que discutir, argumenta com uma pessoa em benefício de uma terceira pessoa que estiver ouvindo. Mas com aquele a quem desejas ganhar para Cristo, geralmente é preferível não discutir. Não discuta com ele nem argumente para que ele ouça. Por quê? Porque a discussão pode afugentar as pessoas em vez de atraí-las. Precisa mostrar um espírito aprazível; de outro modo, elas fugirão de ti.

Muitos pensam que a discussão pode comover o coração de uma pessoa. Mas não é assim. A argumentação, além disso, traz apenas a sujeição à mente das pessoas. Portanto, é preferível falar menos palavras da nossa mente e em troca testificar mais. Fale-lhes do gozo, da paz e do descanso que experimentaste depois que creste no Senhor Jesus. Estes são fatos que ninguém pode rebater.

Utilizando os fatos

Outro método para conduzir pessoas ao Senhor é utilizar fatos, não doutrinas, enquanto fala. Não é por causa do caráter razoável da doutrina que as pessoas vêm à fé. Muitos vêem a lógica da doutrina, mas mesmo assim não crêem.

Freqüentemente é o simples que pode salvar almas. Aqueles que são eloqüentes em pregar doutrinas podem corrigir as mentes das pessoas, mas são incapazes de salvar almas. O objetivo é salvar às pessoas, não corrigir as suas mentes. Qual é o proveito de ter uma mente correta, se o deixarmos sem salvação?

Mantenha uma atitude sincera e séria

Ao testificar, a nossa atitude deve ser sincera e séria, não dada à frivolidade. Não devemos discutir, mas apenas dar a conhecer os fatos do que experimentamos diante de Deus. Se permanecermos nesta posição, poderemos conduzir a muitos ao Senhor. Não trate de ter um grande cérebro; só sublinhe os fatos. Podemos brincar a respeito de outros assuntos, mas nesta matéria devemos ser sinceros.

Peça a Deus oportunidades

Devemos rogar a Deus que nos dê oportunidades de falar com as pessoas. Se orarmos, nos darão essas oportunidades. Algumas pessoas parecem ser difíceis de serem abordadas. Mas se você rogar por elas terá ocasião de lhes falar e elas serão mudadas.

Portanto, devemos aprender a orar e também a falar. Muitos não se atrevem a abrir a sua boca para falar do Senhor Jesus a seus amigos e familiares. Quem sabe as oportunidades o estejam aguardando, mas você as tem deixado escapar porque tem medo.

Procure pessoas de tua própria categoria

Segundo a nossa experiência, é preferível que as pessoas procurem salvar aquelas de sua própria categoria. Esta é uma regra comum. As enfermeiras podem trabalhar entre as enfermeiras, os doutores entre doutores, os pacientes entre pacientes, os funcionários públicos entre funcionários públicos, os estudantes entre estudantes. Trabalhe com aqueles que são mais próximos de ti. Não necessitas começar com reuniões ao ar livre, mas com a sua família e conhecidos. É natural para os doutores trabalhar com seus pacientes, os professores com seus estudantes, os patrões com os seus empregados, os amos com os seus servos.

Não digo que não haja exceções, pois há algumas. O nosso Senhor Jesus mesmo nos deu alguns exemplos excepcionais. No entanto, esta regra com respeito às pessoas da mesma categoria, no geral, é preferível. Que um mineiro pregue em uma universidade é excepcional. Ainda que o Senhor faça às vezes coisas excepcionais; contudo, ele não pode esperar fazer tais coisas diariamente. Por exemplo, não é muito apropriado para uma pessoa muito culta falar com os operários em um cais. Mas se alguns estivadores são salvos e saem para salvar o restante, parece-me um contato mais adequado e mais fácil.

Traga pessoas diante de Deus diariamente, através da oração

Nunca haverá um tempo em que não haja ninguém para se orar. Você pode orar por seus companheiros de estudo, por seu parceiro, seus colegas profissionais ou colegas de trabalho. Peça a Deus que ponha especialmente um ou dois deles em seu coração. Quando ele puser uma pessoa em seu coração, escreve o seu nome em seu registro e clame diariamente por ela.

Depois que tiver começado a orar por uma alma, deve também falar com aquela pessoa. Fale-lhe da graça do Senhor para ti. Isto é algo que não poderá resistir ou esquecer.

A tempo e fora de tempo

Finalmente, desejo mencionar que não é proibido falar com aqueles pelos quais não orou antes. Haverá alguns a quem falará quando os encontrar pela primeira vez. Aproveite cada oportunidade; fale a tempo e fora de tempo, porque você não sabe em quem prosperará. Deve abrir a sua boca freqüentemente, assim como deve orar sempre.

Clame por aqueles que você tem os nomes e clame por muitos cujos nomes você desconhece. Ore para que o Senhor salve pecadores. Quando te encontrares casualmente com um pecador, se o Espírito de Deus te mover, fale-lhe.

Traduzido do «Spiritual Exercise».
Christian Fellowship Publishers.

Óleo à Meia-Noite

Dêem-nos um pouco do seu óleo, pois as nossas candeias estão se apagando... Não, pois pode ser que não haja o suficiente para nós e para vocês” (Mt 25.8-9 NVI).

Óleo, quando usado nas Escrituras no sentido espiritual, sempre significa a unção da presença de Deus sobre uma vida. Nos tempos do Velho Testamento, quando Deus comissionava uma pessoa para uma missão específica, o óleo era derramado sobre a sua cabeça como um sinal da presença de Deus com aquela pessoa. Os sacerdotes eram ungidos com óleo, e era um pecado muito sério quebrar aquela confiança sagrada.

No Novo Testamento, Deus diz: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pe 2.9). Novamente em Apocalipse 1.6 “...e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai, a ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém.” É uma responsabilidade muito séria tornar-se um cristão do Novo Testamento. Deixar de trazer sempre consigo a unção fresca e imediata do Espírito Santo sobre a vida diária é tão desastroso quanto foi o fogo estranho de Nadabe e Abiú.

Quando Jesus andou nesta Terra, trazia sempre junto uma Presença e, com sabedoria ungida, inclinava-se para levantar, curar e confortar, como também para reprovar e advertir. Quando da sua partida, ele prometeu numa linguagem nada ambígua que oraria ao Pai para que derramasse aquela mesma unção sobre os seus seguidores. Com palavras claras e definitivas, ele disse: “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra” (At 1.8). Ele também prometeu: “E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mt 28.20).

O que é que ele deve pensar de nós, sua Igreja professa, quando vê falsos ensinamentos e doutrinas de demônios sendo disseminados agressivamente por todo o mundo, espalhando uma mensagem de condenação, enquanto nós cochilamos e dormimos, permitindo que se acabe o nosso óleo? As palavras do nosso texto são tragicamente patéticas. A parábola das dez virgens não tem nada a ver com religiões falsas ou pecadores fora da igreja; ela pinta o quadro da condição das “virgens” quando da volta de Jesus. Vergonhosamente, algumas não viram a necessidade de ter uma reserva extra de óleo até que fosse tarde demais. Não é, entretanto, o nosso objetivo aqui deter-nos naquele estado depressivo; pelo contrário, desejamos gritar gloriosamente alto que ainda há uma fonte profunda, permanente e superabundante desse óleo. O Espírito Santo não deixou este mundo, nem tampouco impediu o acesso ao propiciatório.

A necessidade gritante da hora, dentro e fora da igreja, é por almas que se separem com violência santa do sono dominador desta época e passem o seu tempo a sós com o único Doador desse óleo inestimável. Jesus nunca nos deu o exemplo de depender das bênçãos de ontem. Ainda que tivesse um coração puro, apesar de ser inteiramente dedicado à sua missão e dos seus motivos serem tão totalmente impecáveis, ainda assim ele se desvencilhava de todas as necessidades prementes ao seu redor e tirava tempo para estar a sós com seu Pai celestial. Algumas vezes, era necessário deixar o sono de lado; outras vezes, ele deliberadamente se afastava da multidão; mas fosse o que fosse, ele conservava a unção na sua vida.

Esses tempos de ficar a sós com Deus ainda derramam óleo sobre a alma que espera diante dele. Esperar em Deus é quase uma impossibilidade na agenda de hoje em dia. Satanás programou perfeitamente o estilo de vida para esta hora da meia-noite em que vivemos de tal modo a não permitir que seja encontrado o óleo da unção – ou até mesmo a impedir que se busque esse óleo. Apesar de tudo isso, não é necessário que nos falte o óleo.

Um evangelista africano descobriu que estava visivelmente perdendo seu poder espiritual. Deixou de lado todos os planos, toda sua agenda e pegou uma garrafa de água e a Bíblia e foi para uma caverna para buscar “óleo”. Vinte e um dias depois, ele voltou com o óleo “pingando” abundantemente por toda sua vida e, conseqüentemente, sobre outros à sua volta.

Senhor, dá-nos do teu óleo!

Ó Senhor, dá-nos óleo, não somente para as nossas candeias, mas enche as nossas vasilhas de reserva também! O mundo lá fora, bem como a igreja daqui de dentro, está inconscientemente clamando por óleo. Quando as pressões das trevas da meia-noite começarem a realmente submergir a era presente e a sacudir os povos do sono profundo que os anestesia, nós precisaremos – PRECISAREMOS ter óleo para lhes oferecer. E podemos ter! Não há ministro, ou superintendente, ou professor de Escola Dominical, ou missionário ou leigo que não possa ir agora “...aos que vendem” a fim de adquirir o óleo que lhes está faltando (Mt 25.9). A esperança oferecida à igreja de Laodicéia foi: “Aconselho-te que de mim compres ouro refinado pelo fogo” (Ap.3.18).

Por amor a Jesus, por amor às pessoas que estão morrendo a cada instante ao nosso redor, nós, que sabemos que existe óleo, devemos deixar de lado tudo o que for necessário até que sejamos cheios do óleo que vem do alto. Como poderemos manter o nosso coração alinhado com o de Jesus se não o fizermos? O caminho que precisamos seguir para termos uma vasilha cheia de óleo geralmente nos tornará alvos de crítica, incompreensão, desprezo, impopularidade e outras atitudes desconfortáveis para a carne humana. Muitas vezes, nos fará sentir que causamos desconforto em certos círculos, até o ponto de nos sentirmos indesejados. Mas é muito melhor enfrentar essas coisas do que a vergonha de não ter a unção do Espírito quando ela se faz mais necessária.

Graças a Deus pelo suprimento inesgotável desse óleo do alto. Jesus deixou esta afirmação no exato momento em que ele subia para voltar ao céu: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra” (Mt 28.18). Ele anela repartir essa autoridade conosco, intercede para isso e estende a mão para nós, no entanto, nós geralmente passamos de largo.

Os corações inflamados com o seu amor não devem cessar de gritar em alta voz para a igreja impotente ao seu redor. Não é irremediável. Não é uma causa perdida. Não é tarde demais para ser reavivado e vivificado novamente com fogo santo e paixão. Que nós, que somos do dia, nos levantemos e clamemos a Deus até que sejamos revestidos mais uma vez com óleo para esta última hora da noite.

Autor: William Cawman
Tesouro em Vasos Terrenos

“A glória de Deus na face de Jesus Cristo... Temos este tesouro em vasos terrenos” (II Coríntios 4:6 e 7)

Primeiro, o Tesouro. Existe no céu um Tesouro que enche os céus, e aqui estou eu, apenas um jarro pequeno e comum que pode ser tão cheio quanto conseguir conter do tesouro Celestial. Deus só tem um tesouro – Seu Filho Amado. Ele O chama de “Meu Tesouro”, e Deus colocou todas as Suas riquezas e todos os Seus tesouros em Jesus. Nele estão escondidos todos os tesouros (Cl 2:3). Deus se deleita em Seu Filho, e assim também você pode se deleitar Nele. Você pode tomar parte e se tornar indizivelmente rico em Jesus, à medida em que Ele Se derrama em você. “Deus, que nas trevas fez resplandecer luz, para a luz do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo” (II Co 4:6).

A luz de Deus
A glória de Deus,
A face de Jesus,

Todas estas coisas celestiais.

A face de Jesus é o Tesouro. Muitos crentes não sabem que possuem tal tesouro. Há alguns anos atrás um campo na África do Sul contendo 40.000 libras de diamantes deve ter sido comprado por 1.000 libras, tudo porque eles não sabiam o valor dos diamantes. Se nós não sabemos que temos este Tesouro Celestial, somos muito pobres. Aprenda a dize: Eu sou tão rico! Tenho um tesouro! Sou rico além do pensamento – Tão rico a ponto de poder distribuir.

Mas como Deus concede este Tesouro? Não como nós. Talvez nós damos um centavo a um mendigo, e ele se vai, e não o vemos mais. Mas Deus não é assim. Esta benção é como o brilho do sol – não pode ser recebida e tomada. Você não pode ter a luz do sol um minuto a mais do que ela brilha em você – ela tem que ser adquirida do sol momento após momento. Assim este Tesouro Celestial me mantém esperando em Deus todo dia, para que ele possa brilhar em mim. O Tesouro Celestial é o amor. No momento em que o amor busca a si mesmo ele está morto. Somente o amor de Jesus é que brilha e busca aqueles que estão nas trevas. O brilho do sol não pode se manter para si mesmo. É a misteriosa natureza deste Brilho Celestial que faz com que ao começarmos a agarrá-lo para nós mesmos, ele se desvanece. Não podemos ter o brilho do sol e guardá-lo para nós mesmos. Olhe o sol brilhando em uma árvore. Se a árvore pudesse dizer: “Ninguém deve me ver”, poderia ela ser escondida antes que venha a escuridão? Enquanto a luz estiver nela, ela deve ser vista. Somos vasos terrenos feitos para conter o Tesouro Celestial, e nada mais; feitos para deixar que a vida, o amor, as riquezas e os tesouros de Jesus brilhem.

Olhemos agora os vasos terrenos. Sobre uma mesa eu vi, um dia, uma caneca de prata com leite e um pequeno jarro marrom com creme. Ninguém, porém resistiu ao creme por estar contido numa jarra de cerâmica. Nós gostamos de jarras de prata, mas Deus gosta muito de colocar seus mais ricos tesouros em jarras terrenas. Esta é uma lição muito importante. Os cristãos pensam tanto em suas fraquezas – “eu sou tão estúpido, tão fraco tão tolo; uma outra pessoa é dotada e pode trabalhar melhor” – Nós esquecemos que Deus quer jarros terrenos.

Havia, na África do Sul, um incrédulo que ninguém conseguia lidar com ele. Certo dia enviaram um ancião da igreja, homem inteligente e piedoso, para vê-lo. Este agiu com ele mas não conseguiu convencê-lo; não foi de proveito algum. Havia, porém, um fazendeiro que orava há anos por aquele incrédulo (o qual era ferreiro). Numa determinada manhã bem cedo ele tomou seu cavalo e cavalgou para ver aquele homem, o qual o saudou dizendo: “Bem, o que o traz aqui esta hora?” O velho fazendeiro gaguejava terrivelmente, e ao ser saudado daquela maneira ele não conseguiu pronunciar palavra alguma. O incrédulo riu e isto tornou a situação ainda pior. Finalmente aquele homem idoso irrompeu em lágrimas e gaguejou: “Estou tão ansioso com respeito à tua alma”, e foi-se apressado. Isto levou à conversão do incrédulo. Ah! Veja o Tesouro Celestial em um vaso terreno.

Isto nos ensina coragem e humildade. Eu nada tenho em mim mesmo. “Aquele que se humilhar será exaltado”; aquele que confessar que é apenas um vaso terreno, será cheio com o Tesouro Celestial. Oh, a maldição do orgulho e do eu. Nós queremos que Deus nos dê algo para que possamos ser alguma coisa, mas Deus quer que sejamos “nada”. Um Tesouro Celestial em um vaso terreno.

Paulo esteve em perigo de se esquecer disto. Ele havia pregado com demonstração do Espírito e de poder. Ele havia sido levado ao terceiro céu e ouvido coisas impossíveis de se proferir. Deus, então, permitiu “um mensageiro de Satanás” para humilhá-lo. Paulo orou sobre este assunto por três vezes, mas Jesus disse: “Não, Paulo. Eu te levei ao terceiro céu e você corre o perigo de pensar que é um vaso celestial. Eu enviei isto para te humilhar, e a Minha força é aperfeiçoada na fraqueza”. Então Paulo disse: “louvado seja Deus. Eu agora me regozijarei em todos os problemas que vierem”.

Então Paulo disse: “Apesar de eu ter labutado mais do que todos, eu nada sou. Eu nunca sonho que estou fazendo algo. Eu não estou nem um pouco atrás do principal dos apóstolos, no entanto não sou eu”.

Agora, voltando à nossa ilustração. Antes do creme ser colocado na jarra de barro, tenho certeza de que ela teve que ser limpa. Assim Deus precisa limpar orgulho e o egoísmo dos vasos terrenos.

Esta jarra, então, deve ser não apenas limpa, mas também vazia; nenhum vinagre, ou vinho, ou leite deixado na jarra para se misturar ao creme. Muitos vasos terrenos são cheios não de pecado, mas de outras coisas – coisas boas. Sim, o bom deve sair, bem como o pecado – as coisas que ninguém consegue dizer que é são más – ou senão não haverá lugar algum para o Tesouro Celestial. O amor do pai, da mãe, da irmã ou do irmão devem ser renunciados para que Deus encha com o amor de Cristo.

O vaso, então, deve estar bem baixo. Quanto mais baixo, mais fácil de encher. Alguns vasos podem estar limpos e vazios, mas não estar baixos o suficiente. Eles não se escondem no pó, portanto Deus não pode enchê-los. Oh, que possamos orar “mais baixo, mais baixo, mais baixo, Senhor; nada, nada, nada, para que somente Deus seja exaltado.”

Autor: Andrew Murray
Extraído da Revista, À Maturidade, Número 25 – Verão de 1994
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Quando Deus intenciona encher uma alma, primeiramente Ele a esvazia;
Quando Ele deseja enriquecer uma alma, primeiramente Ele a empobrece;
Quando Ele intenciona exaltar uma alma, ele primeiramente a faz sensível às suas próprias misérias, desejos e nulidade
R.C. Chapmam

A Vereda do Justo é como a Luz da Aurora

"Aprouve ao Senhor ensinar-me uma verdade, que tem beneficiado a minha vida por
mais de catorze anos. É o seguinte: percebi, muito mais claramente do que antes,
que o assunto mais importante e mais urgente com que tenho de me ocupar a cada
dia é conservar a minha alma muito feliz no Senhor. A primeira coisa com que
devo me preocupar não é tanto o quanto eu posso servir ao Senhor, mas o quanto
eu posso colocar a minha alma num estado de felicidade no Senhor e alimentar o
meu homem interior.

Eu poderia procurar servir ao Senhor pregando a verdade aos incrédulos; poderia
procurar beneficiar os crentes; poderia cuidar de aliviar os oprimidos. Poderia
ainda procurar proceder de tal maneira a me comportar como um filho de Deus
neste mundo, e contudo, por não estar feliz no Senhor e não ser alimentado e
nutrido no meu homem interior dia a dia, tudo isto poderia não ser praticado
corretamente, ou no espírito certo.

Até então a minha prática tinha sido, por pelo menos dez anos antes disso, de
habitualmente me entregar à oração logo depois de me vestir de manhã cedo. Agora
eu vejo que a coisa mais importante que eu deveria fazer era me entregar à
leitura da Palavra de Deus, e nela meditar, de tal maneira que o meu coração
pudesse ser confortado, encorajado, aquecido, reprovado, instruído. Percebi que
assim, através da Palavra de Deus, enquanto meditava nela, o meu coração poderia
ser levado a uma experiência de comunhão com o Senhor.

Comecei, a partir de então, a meditar no texto do Novo Testamento desde o
começo, cedo de manhã. A primeira coisa que eu fiz, depois de pedir em poucas
palavras a bênção do Senhor sobre a Sua preciosa Palavra, foi começar a meditar
na Palavra de Deus, pesquisando em cada versículo para obter dele uma bênção,
não para exercitar o ministério público da Palavra, não para pregar sobre aquilo
que eu estava meditando, mas para obter alimento para a minha própria alma.
Descobri que, como resultado disso, invariavelmente logo depois de alguns
minutos a minha alma era levada à confissão, ou à ação de graças, ou à
intercessão, ou à súplica; de tal modo que, embora eu não tivesse inicialmente
me dedicado à oração e sim à meditação, contudo eu era levado quase
imediatamente de um jeito ou de outro à oração.
Então, quando eu terminava com a minha súplica, ou intercessão, ou ação de
graças ou confissão, eu continuava para os outros versículos, e novamente
mergulhava na oração por mim mesmo ou pelos outros, de acordo com o que me
guiava a Palavra, mas ainda mantendo diante de mim aquele objetivo da minha
meditação, o de obter alimento para a minha alma.

A diferença, então, entre a minha prática anterior e esta atual é isto: antes,
quando eu me levantava, eu começava a orar o mais cedo possível, e geralmente
gastava quase todo o meu tempo até o café da manhã em oração, ou até todo o
tempo. Em todas as ocasiões eu quase invariavelmente começava com oração, a não
ser quando eu sentia a minha alma desnutrida, estéril, casos em que eu lia a
Palavra de Deus para alimento, ou para refrigério, ou para renovação ou
reavivamento do meu homem interior, antes de me entregar à oração propriamente
dita.

Mas qual era o resultado disto? Geralmente eu ficava de joelhos quinze minutos,
ou meia hora, ou até uma hora, antes de alcançar a consciência de estar
recebendo conforto, encorajamento, humildade de espírito, etc., e muitas vezes,
depois de ter sofrido com a divagação da minha mente pelos primeiros dez
minutos, ou quinze, ou até mesmo meia hora, e então somente aí é que eu começava
realmente a orar.

Raramente me acontece isto agora. Com o meu coração alimentado pela verdade,
experimentando uma comunhão real com Deus, eu falo com o meu Pai e com meu Amigo
(por mais vil que eu seja e indigno disto) acerca das coisas que Ele me trouxe
na Sua preciosa Palavra. Muitas vezes eu me admiro agora de que não tenha
percebido isto antes".

Autor: George Müller
Extraído do Jornal Arauto da Sua Vinda - Ano 15 Número 1